26 de mar. de 2022

Recordar é Viver e morrer um pouquinho mais...

Fim de tarde quase sempre é cinzento poeticamente. Por conta desse clima de angústia subjetiva e artística, me permito ir sempre mais além de minhas recordações e vou contar a você uma história...


Eu começando uma trajetória infindável de aprendizado nas letras urbanas. De verdade, nunca me considerei jornalista. Fui e sempre serei repórter de rua. Um cara que começou nas lides policiais e nos "saraus" dos antigos prostibulos da Rua Gaspar Viana, em Belém.  Na época em que por lá ainda existia o Jornal O Liberal.

Arlindo Souza, hoje saudoso, considerado o melhor repórter de rua da antiga Província do Pará, jornal do povão. 

Arlindo Sousa, por conta de uma matéria sobre mulheres que faziam abortos muito bem pagos por suas clientes, sem querer denunciou uma destas "fábricas de anjos" de uma tal Maria José de Aquino, sem saber que um de seus principais clientes, (não ele, mas suas eventuais parceiras, é claro), era um dos diretores do Jornal A Província. Arlindo foi pra rua, caiu no esquecimento e junto com Silas Assis, um dos monstros sagrados do jornalismo paraense, foi fazer o jornal Folha de Belém, do José Miranda, na época,um dos maiores donos de  casas clandestinas de jogo, na capital.


Eu na época tentava aprender a tocar piano, nas aulas do maestro Milton Assis. Que não sabia eu, era irmão do jornalista Silas Assis.


De tanto "ajudar" o maestro a escrever a coluna que tinha na "Folha", "Música e Arte", passei a escrever a coluna quase totalmente, antes com pequenas notas, depois eu quase virei titular, ainda que o maestro assinasse a coluna.

Chegou o mês de julho de 1981.  Maestro Milton Assis entra de férias e eu, resovi me "apresentar" no Jornal pra ser jornalista, o que na verdade nunca cheguei a ser. Sou repórter com muito orgulho!!!


Na cara de pau dos meus 18 anos incompletos, pedi logo de cara uma carteira de jornalista, pra poder me oficializar no oficio.

Ganhei cargo de destaque!!! Passei a "ajudar" de forma direta meu "mentor" Arlindo Souza: ia buscar as propinas, hoje beirotas, nos prostibulos onde era ferrenho freqüentador aos 17 anos e poucos anos de idade. Pra mim era uma grande honra; assessor direto do "Mestre" na arte da sacanagem e frequentador "consagrado" do submundo da corrupção policial, vigente na época.


Foi numa dessas tardes que resolvi visitar e entrevistar o diretor do Teatro da Paz, maestro Waldemar Henrique, já com a visão praticamente perdida, porém muito produtivo artisticamente. 


Foi nesse bate papo do repórter iniciante com o monstro consagrado,  que ele me revelou: "Meu sonho é ver o povo mais humilde frequentando o Teatro". Foi o que bastou…


O repórter iniciante, no caso eu, fiz a matéria com entusiasmo. Não sei se por conta ou não dessa "grande matéria", fato é que o Governo do Estado do coronel Alacid Nunes, achou de fazer com a secretaria de Educação do Dionisio Hage, o projeto "Criação de Novas Platéias".


O entusiasmo do maestro Waldemar Henrique, perpetuado no "grande jornal" Folha de Belém, se transformou num grande e estrondoso... fiasco.


O povo morador da periferia, estudantes de escolas estaduais, ao final dos espetáculos apresentados, deixava as centenárias cadeiras de palinha do Teatro da Paz, riscadas e rasgadas.

O projeto teve que ser cancelado, caso contrário o Da Paz terminaria como cenário de Pós Guerra. 


Esqueceram de educar o povo para se portar em meio ao luxo da Casa e bom gosto musical das peças apresentadas. 

Hoje o povo mudou os hábitos. Graças a Deus.



Lembrei dessa história, por que folheava um livro na Casa de Cultura de Santarém hoje à tarde, que contêm partituras do Maestro.


Moral da História. Quase quarenta anos depois, um "velho" se lembra do encontro que teve: "conheci pessoalmente Waldemar Henrique, hoje nome de Teatro e Praça na capital. Junto com ele, sonhei o sonho mágico de ver o povo "pé no chão" escutando música clássica.   E junto com ele também me decepcionei... 

Afinal, sonhos nem sempre se afinam com realidade!!!


Coisas da vida, que a chegada do crepúsculo  da gente traz, pra consolar ou entristecer... E assim.


Carlos Cruz é repórter


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