O presidente Jair Bolsonaro (PL) deixará os palácios do Planalto e da Alvorada na manhã do dia 1º de janeiro e entrará para a História como o primeiro ocupante do cargo a tentar e não conseguir se reeleger desde 1998, quando titulares do Executivo passaram a poder disputar um segundo mandato consecutivo.
Antecessores conseguiram...
O primeiro presidente a concorrer à reeleição foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que venceu a disputa com tranquilidade, ainda no primeiro turno, em 1998. Em 2006, Lula foi ao segundo turno com Geraldo Alckmin (na época no PSDB, e hoje seu vice) e também venceu com facilidade.
Com um governo mal avaliado, Dilma Rousseff (PT) teve a reeleição mais complicada. Superou Aécio Neves (PSDB) no segundo turno com uma margem apertada de cerca de três pontos percentuais.
Resultado já era previsto por aliados...
Apesar de todos os principais institutos de pesquisa indicarem, desde o ano passado, a liderança de Lula, Bolsonaro preferiu desqualificar os levantamentos que também apontavam uma avaliação predominantemente negativa de sua gestão e estilo de governar, insistindo sempre que seria vitorioso ainda no primeiro turno. Mas o resultado não surpreendeu aliados.
Às vésperas do primeiro turno, na sexta-feira à noite, vários deles já deixavam claro, reservadamente, que a vitória se tornava um objetivo cada vez mais distante com os tropeços do presidente e a insistência em radicalismos que dificultaram ganhar o voto de eleitores indecisos que tendiam ao centro.
Dentro e fora do núcleo duro bolsonarista, sobrepõe-se a percepção de que Bolsonaro foi abatido pelos próprios erros. Reiteradamente, aliados apresentavam ao presidente dados para convencê-lo de que teria de demonstrar maturidade e temperança para conquistar mais um mandato.
Pesquisas internas deixavam claro que os reiterados ataques a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e à confiabilidade das urnas eletrônicas agitavam os apoiadores, mas não lhe traziam os votos necessários para levar a corrida para o segundo turno.
Nem a aliança com o Centrão, que lhe garantiu uma estrutura de campanha profissional e base no Congresso para aumentar gastos públicos, foi suficiente para superar os passivos políticos. Não foram poucos os alertas de que era preciso deixar o candidato de 2018 no passado para superar os desgastes de uma gestão marcada por crises.
Um roteiro que incluía investigações de seus filhos, suspeitas de corrupção e declarações condenáveis sobre a pandemia, que levou a vida de 680 mil brasileiros.
As frases infelizes e a cena em que o presidente da República imita alguém com falta de ar numa live foram amplamente exploradas por adversários, principalmente Lula. Na reta final, Boslonaro ensaiou um pedido de desculpas, mas o estrago na popularidade estava cristalizado.
Para além da forma como o presidente encarou o coronavírus, a pandemia agravou a crise da economia, que já tinha dificuldades de reagir antes do vírus. A esse aspecto se somam falhas de comunicação, de acordo com a avaliação do próprio QG bolsonarista.
Medidas econômicas anunciadas às vésperas do período eleitoral, como aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e a redução do preço do combustível, foram vistas como eleitoreiras e não reverteram votos para Bolsonaro.
Na opinião de aliados do próprio presidente, também faltou tratar do que interessava a grande parte da população: combate à fome, educação e saúde, temas pouco tratados pelo candidato à reeleição, que insistia em propagar teoria das conspirações.
O aumento do tom nos ataques a Lula, a quem o presidente insistiu em chamar de "ladrão" e "ex-presidiário" nos debates e em diferentes ocasiões, também não surtiram o efeito esperado.
Texto/ Daniel Gullino e Jussara Soares
Fotos/ Internet
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