Magalu, Via Varejo, BRF: analistas orientam o que fazer após balanços decepcionantes
Com o aumento na inflação de grãos, BRF divulgou prejuízo de R$ 277,5 milhões; mas profissionais acreditam que ainda não é hora para vender os papéis.
Nesta semana, chegou ao fim a mais recente temporada de balanços, quando as empresas listadas na Bolsa de Valores tinham de publicar os resultados operacionais referentes ao trimestre encerrado em 30 de setembro. Desta vez, companhias de grande volume de negócios na Bolsa decepcionaram o mercado, como a Magazine Luiza e a BRF.
Mesmo que o resultado tenha trazido prejuízo ou queda nos lucros, analistas acreditam que ainda não seria hora de se desfazer dos papéis dessas companhias. Pedro Serra, gerente da Ativa Investimentos, considera ser importante avaliar todo o setor nos quais essas empresas estão inseridas antes de tomar uma decisão.
Por outro lado, essa não é uma visão quando a análise trata da Via Varejo e do Grupo Pão de Açúcar. Ambas as companhias apresentaram resultados negativos no terceiro trimestre. Para os analistas, elas estão em um cenário menos propício para a recuperação. Ainda que a decisão de vender ou manter dependa da estratégia de carteira de cada investidor, há análises que podem ajudar a tomar ações assertivas.
Em 11 de novembro, por exemplo, o Magazine Luiza divulgou queda de quase 90% no lucro líquido, passando de R$ 215,9 milhões em 2020 para R$ 22,6 milhões em 2021. Entre a quinta-feira e a sexta (12), os papéis da varejista tiveram desvalorização de 18,3%. E nesta semana, caíram mais 31,58%, de acordo com o fechamento de ontem, e estavam a R$ 9,47 às 11h de hoje.
Na avaliação do analista da Ativa, é natural que a comparação com 2020, no caso do varejo digital, apresente queda em 2021, devido à reabertura da economia, que faz com que consumidores voltem a gastar com restaurantes e viagens, diminuindo aportes no varejo, e à alta na taxa de juros ocorridas nos últimos meses. “O e- commerce sofreu muito na Bolsa, mas, no caso da Magalu, vale a pena confiar na empresa.
Ela caiu muito nos últimos dias, porém para aqueles que esperam investimento no longo prazo ainda é uma boa opção”, diz.
Regis Chinchila, analista da Terra Investimentos, também pontua o aumento da concorrência no setor, com o crescimento da operação do Mercado Livre e da Amazon no Brasil. Apesar disso, também enxerga a Magalu de modo otimista. “É uma empresa com caixa e fundamentos sólidos para lidar com a concorrência acirrada. Deve atravessar um cenário complicado até meados de 2022 e então se recuperar”, afirma.
No caso da Via Varejo, o que decepcionou foram os R$ 638 milhões de prejuízo no terceiro trimestre. No mesmo período de 2020, a companhia havia registrado lucro líquido de R$ 590 milhões. E, neste caso, pode já não ser uma boa opção para aportes, segundo André Zonaro, analista da Nord Research. Ele destaca que a empresa teve de realizar uma provisão de R$ 887 milhões no período, relacionada a despesas trabalhistas, o equivalente a 10% da receita entre julho e setembro.
Somado a isso, o desempenho das lojas físicas da companhia também decepcionaram o mercado, ainda que o varejo online tenha apresentado crescimento. “As lojas físicas têm um percentual maior na receita e não conseguiram acompanhar o online, o online sozinho não foi suficiente para compensar as lojas físicas e os dois juntos não compensam as provisões trabalhistas que ainda devem durar por meses”, analisa.
Este cenário, junto com o aumento na taxa de juros e redução nas vendas do varejo nacional, faz com que Zonaro não recomende o investimento em ações da empresa. “Investir em Via Varejo pode ser uma medida muito arriscada”, diz. Nesta semana, as ações da companhia acumulam queda de 9,08% e às 12h de hoje estavam cotadas à R$ 5,61.
Chinchila, da Terra, explica que as altas inflacionárias dificultam o consumo no setor. “Com menor poder de compra, a população está passando por uma mudança de comportamento e buscando preços melhores no atacarejo, como Atacadão e Assaí”, diz.
Neste cenário, as marcas Pão de Açúcar e Carrefour têm desempenhos afetados, além de sofrerem com o aumento dos preços de importação de produtos. A mudança do comportamento do consumidor deve permanecer mesmo no pós-pandemia, com a previsão de que a inflação só deve começar a se comportar em 2023, ressalta o analista.
Serra, da Ativa, pontua que não é que os investidores devam vender a participação acionária nestas empresas. “Elas estão passando por um momento ruim, mas não são companhias endividadas e continuam gerando caixa”, comenta.
No setor alimentício, o prejuízo de R$ 277,5 milhões divulgado pela BRF, processadora de frangos e suínos, também chamou a atenção do mercado. Serra explica que o prejuízo deve-se à pressão inflacionária no custo de grãos como milho e soja, que são utilizados pela empresa como razão para os frangos. “O preço destes grãos pressionou a margem da empresa e deve se manter alto nos próximos meses”, diz.
Chinchila, por sua vez, também ressalta a queda nas exportações ao mercado chinês como um dos motivos para o prejuízo da BRF, mas reforça que a empresa “já passou por crises piores, tem um histórico de fundamento e solidez e está preparada para lidar com as dificuldades da inflação”. A recomendação do analista é de manutenção da posição acionária na companhia.
As surpresas negativas foram além dos setores de varejo e alimentos. Companhias da área de saúde também enfrentaram balanços ruins. A HapVida, por exemplo, teve queda de 82,4% no lucro líquido, e a NotreDame Intermédica, prejuízo de R$ 90,7 milhões.
Serra, da Ativa, destaca que os resultados ruins aconteceram devido à volta do custo de procedimentos médicos no setor. Ele acredita que esse é um movimento temporário. “O paciente que tinha um procedimento simples para fazer não fez durante a pandemia e está agendando apenas agora”, diz. “Outro ponto é a inflação médica, que é sempre muito mais alta que o IPCA, pois tem muitos produtos importados, remédios, exames e procedimentos com dólar no custo.”
Ainda assim, o analista tem uma visão otimista para as empresas. Serra ressalta que ambas as companhias estão crescendo e fazendo aquisições. “O setor público não tem mais capacidade para investir em saúde. Essa lacuna é ocupada por empresas privadas”, afirma.
Por : FORBES Brasil