“Essa Constituição Federal traduzida para o Nheengatu dá mais visibilidade e valoriza as questões indígenas no atual cenário nacional”, comenta George Borari, professor integrante da Academia de Língua Nheengatu.
O lançamento da inédita versão da Constituição Federal em Nheengatu, a ‘Língua Geral’ dos povos indígenas da Amazônia, acontece hoje (19), em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas.
A versão traduzida para a língua indígena parte de uma iniciativa da Ministra e atual presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, que em viagem ao Amazonas se comprometeu a publicar uma versão da Carta Magna em língua indígena acessível aos povos da região.O Nheengatu é a língua falada do Alto Rio Negro, no Amazonas, até o Médio Tapajós, no Pará, nesse sentido ela é considerada como um tipo de “língua geral” dos povos indígenas da região.
A tradução foi realizada por 15 representantes dos povos amazônicos do Rio Negro, Baixo Tapajós e Médio Amazonas, com a consultoria de integrantes do Direito, sob supervisão da juíza Andréa Medeiros. Coube a ela, magistrada com experiência em populações indígenas do Amazonas, coordenar e ajudar a construir o projeto.
George Borari, (foto), um dos tradutores da versão em Nheengatu, explica que “a pedido da ministra Rosa Weber, presidenta do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Academia de Língua Nheengatu traduziu para a Língua Indígena a Constituição Federal de 1988”.
George é professor de Língua Nheengatu em Santarém (Baixo Tapajós) e explica que “isso [a versão traduzida] significa muito para os povos da região no que tange o fortalecimento linguístico na região do Tapajós e nesta Década Internacional das Línguas Indígenas (2022-2032)”.Sobre o projeto, George relembra que a princípio eram 5 tradutores convidados pela assessoria do CNJ, "mas como nos pediram para realizar essa tradução em menos de 2 meses dissemos que iríamos convidar mais tradutores, então chamamos mais amigos da Academia de Língua Nheengatu para fazer parte. Do Tapajós, além de mim, George Borari, também participou Cauã Borari e Gedeão Arapyú para integrarem a equipe de tradução", explica ele.
“A princípio os termos muito técnicos tiveram que ser modificados em uma linguagem mais simples e acessível aos parentes falantes de Nheengatu (Yẽgatu como é chamado aqui no Rio Negro), tivemos apoio de consultores, juíza, advogados, desembargadores, assessores parlamentares que nos deram esse apoio no entendimento dos artigos da constituição, fizemos em um tempo recorde”, relembra o professor.
A iniciativa do projeto foi do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com o Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), por meio da Escola Superior da Magistratura do Amazonas (Esmam), sob direção do desembargador Flávio Pascarelli. Participaram também Marco Lucchesi, da Biblioteca Nacional, a convite do CNJ e o linguista José Ribamar Bessa Freire. A consultoria jurídica ficou a cargo de Luana Marley de Oliveira e Silva, Andrea Medeiros e Inory Kanamary. A coordenação é de Luís Geraldo Sant’Ana Lanfredi, Andrea Medeiros e Luanna Marley de Oliveira e Silva. Os cinco líderes da equipe de tradutores foram: Dadá Baniwa, Edison Cordeiro Gomes, George Borari, Melvino Fontes e Edilson Martins.
No evento de Lançamento estarão presentes as Ministras Rosa Weber (STF/ CNJ), Carmen Lúcia (STF), Sônia Guajajara (MPI), Joenia Wapichana (presidente da FUNAI) entre outros, além dos tradutores e do vice-governador do Amazonas.
Professor George Borari, orgulhoso do feito, aponta que “essa Constituição Federal traduzida para o Nheengatu dá mais visibilidade e valoriza as questões indígenas no atual cenário nacional”.
De acordo com Sônia Guajajara, a CF 88 poderá ser traduzida em outras línguas indígenas nos próximos meses.
Por; Marta Silva
Transcrito; Tapajós de Fato